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OPINIÃO: Quando o estômago perde o ritmo

7 Agosto, 2025 | 16:25
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Armando Peixoto
2 min. leitura

Já alguma vez sentiu que a comida “fica parada” no estômago durante horas após a refeição? Para algumas pessoas, este desconforto é diário, e pode significar mais do que uma má digestão.

A gastroparésia é uma doença que afeta a motilidade do estômago, ou seja, o seu movimento normal de esvaziamento. Nesta condição, o estômago demora demasiado tempo a enviar os alimentos para o intestino, mesmo na ausência de uma obstrução física.

Quem pode ter gastroparésia?

Esta doença afeta maioritariamente mulheres entre os 40 e os 60 anos e pode ter várias causas: diabetes mal controlada (especialmente a tipo 1), algumas cirurgias abdominais (como bypass gástrico ou fundoplicatura), medicamentos que atrasam o esvaziamento gástrico (como opiáceos), doenças autoimunes ou neurológicas, entre outras. No entanto, em muitos casos, não se identifica nenhuma causa clara, denominando-se gastroparésia idiopática.

Sintomas e impacto

Os sintomas mais comuns incluem náuseas, vómitos (frequentemente de alimentos ainda mal digeridos), sensação precoce de saciedade, enfartamento após as refeições, inchaço abdominal e, por vezes, dor na parte superior do abdómen. Estes sintomas tendem a surgir em conjunto e podem ser persistentes ou flutuantes. Além do impacto físico, a gastroparésia afeta fortemente o bem-estar psicológico, a vida social e a produtividade profissional. Há estudos que comparam a sua carga emocional à da depressão ou de outras doenças crónicas graves.

Como se diagnostica?

O diagnóstico exige três condições fundamentais: (1) presença de sintomas típicos, (2) exclusão de obstrução mecânica, geralmente por endoscopia e imagiologia, e (3) comprovação de esvaziamento gástrico atrasado através de testes específicos — o mais comum é a cintigrafia de esvaziamento gástrico com uma refeição-padrão.

Como se trata?

O tratamento tem como objetivo aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Começa-se por mudanças na alimentação:

  • Refeições pequenas e frequentes;
  • Evitar gorduras e alimentos ricos em fibras insolúveis;
  • Preferir alimentos triturados, em puré ou líquidos;
  • Controlar rigorosamente a glicemia em doentes diabéticos;
  • Reduzir o consumo de álcool e evitar o tabaco.

Além disso, existem medicamentos que estimulam a motilidade gástrica (procinéticos) ou aliviam as náuseas (antieméticos). Contudo, cerca de um terço dos doentes não melhora com a medicação. Nestes casos mais graves, pode recorrer-se a sondas de alimentação, estimulação elétrica do estômago, cirurgia do piloro ou procedimentos endoscópicos inovadores como o G-POEM.

Um diagnóstico que merece atenção

Apesar de relativamente desconhecida, a gastroparésia é cada vez mais diagnosticada, em parte graças a uma maior sensibilização e melhores exames. Ainda assim, continua muitas vezes confundida com outras condições, como a dispepsia funcional. Se sofre de náuseas persistentes, vómitos recorrentes ou se sente “cheio” durante horas após comer, fale com o seu médico. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior a probabilidade de controlar os sintomas e recuperar qualidade de vida.

Armando Peixoto, médico gastrenterologista, Assistente Hospitalar de Gastrenterologia – Unidade Local de Saúde São João; Coordenador Gastrenterologia – Trofa Saúde Hospital da Boa Nova e Maia; Assistente Convidado – Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Secretário-Geral do Núcleo de Neurogastrenterologia e Motilidade Digestiva – Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG).

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