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Opinião

OPINIÃO: Um Só Mundo, Uma Só Voz: O Desafio e a Esperança da Paz Global 

18 Outubro, 2024 | 18:25
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Claudia Marinho
9 min. leitura

O valor e a condição humana são temas profundos e complexos, que têm sido objeto de reflexão por filósofos, pensadores e artistas ao longo da história.

A condição humana refere-se à experiência de ser humano, com suas limitações, potencialidades, alegrias e sofrimentos. Já o valor humano está ligado à dignidade inerente a cada indivíduo, algo que transcende características sociais, culturais ou económicas. Ambos os conceitos falam e se cruzam, influenciando-se mutuamente na construção da nossa compreensão do que significa viver. 

A condição humana é marcada por contradições e paradoxos. Somos seres racionais, mas também emotivos, almejamos a liberdade, mas vemo-nos limitados por e pelas circunstâncias. Cada ser humano enfrenta questões existenciais, como o sentido da vida, a inevitabilidade da morte, o desejo de pertença e o sentimento de solidão. Essas questões não só definem a experiência individual, mas também refletem aspectos universais da existência humana. A angústia frente à temporalidade da vida, por exemplo, lembra-nos da nossa fragilidade e ao mesmo tempo do desejo de deixar uma marca no mundo. 

Por outro lado, o valor humano surge da ideia de que cada vida tem um significado único e irreplicável. Esse valor não depende da produtividade de uma pessoa, das suas realizações ou da sua posição na sociedade, mas sim do simples facto de ser humana. É um princípio que fundamenta  os direitos humanos, reconhecendo que cada indivíduo merece ser tratado com respeito e dignidade,  independentemente de suas características, crenças ou origens. O valor humano é a base para a empatia, para a compaixão e para a justiça social, pois implica reconhecer a importância da vida de cada pessoa. 

Os desafios da condição humana, como a dor, a incerteza e a morte, muitas vezes revelam esse valor fundamental. Ao deparamo-nos com a vulnerabilidade do outro, somos capazes de ver a nossa própria fragilidade e, assim, exercitar a solidariedade. A compreensão da nossa própria condição pode-nos tornar mais sensíveis às necessidades alheias e à importância de lutar por um mundo mais justo e inclusivo, onde cada vida seja respeitada. 

A ideia de que diferenças de cor de pele, credo ou religião devam servir como motivos para discriminação ou conflito é, na essência, injusta e prejudicial. Esses diferenciadores são construções sociais e não têm qualquer justificação moral ou ética para serem utilizados como base para a divisão, exclusão ou violência entre grupos humanos.

Historicamente, essas diferenças têm sido usadas de forma distorcida para criar hierarquias, justificar dominações e alimentar conflitos. No entanto, tais distinções não refletem a verdadeira essência do ser humano e ignoram o que temos em comum: a nossa capacidade de sentir, pensar, criar e cuidar uns dos outros. 

Será importante referir e refletir sobre alguns pontos que na minha opinião deverão reforçar a visão de que essas distinções não deveriam ser motivos de separação: 

Unidade da Experiência Humana: A humanidade é marcada por uma diversidade de culturas, experiências e modos de vida, mas, no fundo, compartilhamos necessidades e aspirações universais. Todos procuramos segurança, dignidade, felicidade, e desejamos uma vida significativa para nós e para os nossos entes queridos. A cor da pele, o credo ou a religião são apenas formas diferentes de expressar a nossa identidade, mas não deveriam definir o nosso valor como seres humanos. 

A Injustiça da Discriminação: A discriminação baseada em cor de pele, crenças religiosas ou culturas diferentes é injusta porque desconsidera o valor intrínseco de cada pessoa. Ninguém escolhe a cor da própria pele ou o contexto em que nasce. Além disso, crenças e culturas são fruto de histórias e tradições familiares e comunitárias. Usar essas características para tratar alguém como inferior ou indigno de direitos básicos é uma violação da dignidade humana. 

Igualdade de Direitos: A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pelas Nações Unidas em 1948, foi um marco para reconhecer que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Essa igualdade deve ser um princípio orientador da vida em sociedade, uma vez que promove o respeito e a valorização de cada pessoa, independentemente de sua origem étnica, crença ou cor. 

Diversidade como Riqueza, Não como Obstáculo: A diversidade cultural, religiosa e étnica é uma fonte de riqueza para a humanidade. As diferentes formas de ver o mundo, de viver e de expressar a nossa espiritualidade e cultura, são elementos que nos fazem crescer como sociedade. Quando essas diferenças são respeitadas e valorizadas, elas tornam a convivência humana mais rica e ajudam-nos a resolver desafios globais de forma mais criativa e inclusiva. 

Educação para a Empatia e Respeito: A educação é uma ferramenta essencial para desconstruir preconceitos e promover o respeito pelas diferenças. Ao ensinar que todas as pessoas, independentemente de sua aparência ou crenças, têm valor e direitos iguais, construímos uma sociedade mais justa e pacífica. A empatia, ou a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro,

permite-nos reconhecer o sofrimento que a discriminação causa e nos motiva a lutar contra qualquer forma de preconceito. 

Desafios e Responsabilidade Coletiva: É responsabilidade de todos, como sociedade, superar essas divisões artificiais. Isso envolve reconhecer e reparar as injustiças históricas que ainda têm impacto no presente e construir pontes de compreensão entre diferentes comunidades. Lutar contra o racismo, a intolerância religiosa e outras formas de discriminação é um compromisso com um futuro mais justo, onde as diferenças são respeitadas e a dignidade de todos é garantida. 

Essas diferenças não devem ser barreiras, mas sim uma base para nos enriquecermos mutuamente. Ao acolhermos a diversidade, reconhecemos que a essência humana não reside em superficialidades, mas na nossa capacidade de viver juntos em paz, de dialogar e de criar um mundo melhor para todos. 

A existência de um diferenciador entre povos em relação à guerra está profundamente enraizada em fatores culturais, históricos, económicos e políticos. Esses diferenciadores surgem de como as identidades coletivas são construídas e reforçadas ao longo do tempo, criando uma perceção de “nós” e “eles” que pode ser usada para justificar conflitos e disputas. A Identidade Cultural e  

Nacionalismo, é um dos principais motivos para essa distinção, as culturas são construídas com base em narrativas que envolvem mitos, tradições, religião, língua e costumes, que conferem a um grupo de pessoas um senso de pertença comum. Quando essa identidade é ameaçada por outro grupo ou quando diferenças são exacerbadas, as divergências culturais podem ser transformadas e justificativas para guerras. O nacionalismo, por exemplo, reforça a ideia de que um determinado território ou recurso pertence a um grupo específico, tornando mais fácil ver o outro como uma ameaça ou inimigo. Os Interesses Económicos e Geopolíticos, também servem como justificação. Os recursos naturais como o petróleo, terras férteis, água e minerais são frequentemente motivos para a guerra, e as diferenças culturais são utilizadas para justificar ou legitimar essas disputas. A necessidade de controlar rotas comerciais ou territórios estratégicos faz com que um povo se veja em oposição a outro, e as distinções culturais são usadas como um “verniz” ideológico para encobrir interesses económicos e geopolíticos. A História e a Memória Coletiva, as guerras e os conflitos passados entre povos muitas vezes criam memórias coletivas que se tornam parte da identidade de um grupo. Lembranças de invasões, opressões ou vitórias são passadas de geração em geração, criando uma perceção de inimigos históricos e justificando futuros conflitos. O passado conflituoso entre povos pode ser reativado por líderes políticos e militares para mobilizar populações, reforçando a ideia de que a guerra é uma forma de reparação ou defesa contra ameaças históricas.

Como já referi anteriormente, as Diferenças Religiosas, também desempenham um papel significativo na diferenciação entre povos em relação à guerra. Ao longo da história, crenças religiosas foram usadas tanto para justificar guerras quanto para reunir povos sob uma mesma bandeira de resistência contra outros considerados infiéis ou hereges. Essas diferenças religiosas, quando combinadas com fatores como nacionalismo ou disputas territoriais, podem-se tornar ainda mais inflamadas e difíceis de resolver, visto que lidam com aspectos profundos da identidade e das crenças pessoais. Em situações de guerra, é comum que a Psicologia de Grupo leve à Desumanização do inimigo. A diferenciação cultural facilita essa desumanização, tornando o outro um “estranho” que precisa ser combatido ou eliminado. Essa dinâmica de grupo serve para reforçar a coesão interna e justificar atos de violência. É mais fácil para um grupo se envolver em ações violentas quando o inimigo é visto como fundamentalmente diferente e, portanto, menos digno de empatia ou compaixão. Por fim e não menos importante temos a Propaganda e Manipulação  Política. Governos e líderes frequentemente manipulam diferenças culturais e identitárias para mobilizar os seus povos em direção a conflitos. A propaganda de guerra é uma ferramenta poderosa que explora estereótipos e ressentimentos culturais para criar uma narrativa de ameaça e necessidade de defesa. Ao reforçar as diferenças entre um povo e outro, os líderes podem desviar a  atenção de problemas internos, unindo o grupo contra um inimigo externo. 

Estes diferenciadores entre povos são, portanto, em grande parte construções sociais e culturais que, apesar de baseadas em elementos reais de distinção, são muitas vezes exacerbadas para servir a interesses específicos de poder e controle. A guerra, em muitos casos, não nasce apenas das diferenças entre povos, mas da instrumentalização dessas diferenças para justificar disputas de poder, recursos e territórios. A compreensão dessas dinâmicas é fundamental para pensar em caminhos de diálogo e construção de paz, que reconheçam as diferenças sem transformá-las em motivos de conflito. Portanto, o valor e a condição humana são interdependentes e nos convidam a uma reflexão profunda sobre o que significa ser humano em um mundo em constante transformação. Reconhecer o valor intrínseco de cada pessoa, mesmo diante dos desafios da vida, é fundamental para criar uma sociedade que respeite e acolha as diferenças, promovendo o bem estar comum e a realização de uma vida com sentido para todos. 

A guerra começa onde o diálogo se cala, e a cada bala disparada perdemos a chance para um entendimento.  

Claudia Viana Marinho – Educadora Social 

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