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Opinião

OPINIÃO: Democracia é Respeito  

9 Outubro, 2025 | 9:30
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Claudia Marinho
2 min. leitura

Nada me perturba tanto quanto a distância entre palavras bonitas e ações reais. Fala-se de solidariedade, justiça social, participação… e, na prática, quase tudo fica por cumprir. É impossível não sentir revolta diante dessa hipocrisia, dessa facilidade em transformar valores  sérios em meros adornos. 

Estar ao serviço das pessoas não é um papel ocasional. É um compromisso diário, nos gestos  pequenos e nas lutas maiores, não pela visibilidade, mas porque faz sentido… Dedicar-me às causas sociais e cívicas nunca foi uma estratégia ou um título, mas a forma que  encontrei de viver com coerência, mesmo que nem sempre seja o caminho mais fácil. Se houvesse mais verdade, mesmo que dura, o mundo seria mais simples e justo. A sinceridade não  precisa ser perfeita, basta ser autêntica. Já a hipocrisia, por mais polida que seja, deixa sempre um  vazio: é uma sombra disfarçada de luz, uma máscara que cedo ou tarde cai. Fala-se da falta de mulheres na política, da igualdade e da representatividade. Mas, quando uma  mulher ocupa o seu espaço, enfrenta desconfiança e crítica. Até entre mulheres, muitas vezes, se  reproduz esse olhar de desvalorização. Em vez de reconhecimento, surgem barreiras, em vez de  solidariedade, críticas fáceis. Parece existir um “lugar permitido” e quem o ultrapassa enfrenta  condenação. 

A política continua marcada por dogmas que dão mais peso a nomes e conveniências do que à  capacidade e ao trabalho real. A dedicação de quem já deu provas é esquecida, o mérito apagado,  porque o sistema prefere velhas fórmulas. A mudança só será verdadeira quando olharmos para as  pessoas pelo que fazem, pela coragem, competência e entrega e não pelo género, pelo apelido ou  pelo alinhamento com conveniências antigas. 

Até lá, continuaremos a ouvir belas palavras sobre igualdade, enquanto a prática permanece  incoerente. Mas há outro desafio silencioso: a forma como olhamos e tratamos os outros. De pouco serve falar em justiça social se, ao mesmo tempo, alimentamos intolerância em gestos do  quotidiano. Não basta erguer bandeiras de igualdade sem respeitar a diferença, sem escutar o que é distinto do nosso pensamento, sem reconhecer a dignidade de cada pessoa. A verdadeira mudança não nasce apenas de programas, mas da coragem de praticar a tolerância  essa capacidade de aceitar que o outro pode pensar e viver de forma diferente, e ainda assim  merecer o mesmo respeito. 

Como alerta o filósofo Byung-Chul Han em Infocracia, “a democracia só é possível quando há a  disposição de ouvir o outro; sem escuta e respeito, ela degrada-se em mera aparência”.

Respeitar não é concordar sempre, é admitir que ninguém deve ser diminuído pela sua condição,  escolhas ou lugar na sociedade. 

Vivemos tempos em que é fácil falar mais alto, julgar rápido, rotular em segundos. Mas a política e a vida em comunidade só ganham sentido quando se constroem na escuta paciente, no  reconhecimento mútuo, no cuidado com as palavras e os gestos. A justiça não floresce onde a  intolerância se instala, e a solidariedade não cresce onde falta empatia. 

Mais do que denunciar incoerências, importa cultivar o exemplo: ser coerente não apenas nas  grandes causas, mas também no respeito quotidiano pelo outro. 

A mudança que se exige ao sistema também se exige a nós, na forma como tratamos quem nos  rodeia, na disposição para ouvir antes de condenar, na coragem de valorizar sem inveja e de apoiar  sem reservas. Só assim, entre vozes e silêncios, poderemos transformar não apenas a política, mas  também a convivência humana, tornando-a mais justa, verdadeira e, acima de tudo, respeitosa. 

Claudia Marinho 

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